Wednesday, December 8, 2010

muslitos do mar - assim se diz em português?

«Surimifleischkroketten» - Mesmo quem sabe alemão não saberá ao certo que produto em concreto mereceu esta denominação tão técnica e precisa (correspondendo ao lugar-comum do alemão), a não ser que se presente acompanhada pela respectiva imagem. Então alguns dirão que são «muslitos del mar», recordando férias de verão na Espanha ou em lugares de cultura hispano-americana.

No entanto, esta expressão não se encontra em nenhum dicionário de língua alemã. Também os dicionários de língua portuguesa não registam a palavra «muslito», nem «muslo», apesar de as geladeiras lusas se encherem com «muslitos do mar», sobretudo nesta quadra (pré-)natalícia. O Google-Tradutor traduz «muslo» por «coxa» e insiste nesta tradução também para o diminutivo «muslito».

Em japonês, surimi significa «músculo de peixe picado» (daí a indicação alemã de «Fischmuskelfleisch» nas embalagens, quanto aos ingredientes). Depois de uma tradição milenar de elaboração artesanal, o surimi e os seus derivados entram, através da fabricação industrializada apartir dos anos 70, não só no leque do fast food japonês, com derivados no Ocidente pouco conhecidos, mas também globalizado, através da criação de derivados, adaptados no aspecto, na consistência, na cor e no sabor (imitação de marisco, nomeadamente carangejo) ao gosto do comsumidor norte-americano e, sucessivamente, europeu (vd. Taha, 1996), levantando a questão da sua tradução.

O derivado mais comercializado, o surimi crab stick, foi baptizado em língua espanhola como «delicia del mar» que venceu propostas como «palito del océano» ou «delicia de surimi» (vd. Park, 2005). Em português, a «delicia» ficou substituída por «capricho» na denominação mais comercializada caprichos do mar, no entanto practicamente coexistindo com delícias do mar, como mostram os resultados de busca em Google.

Sabendo o significado da palavra surimi, poderia parecer que houvesse uma troca de «músculo» por «muslo» na sua tradução para espanhol, mas não é assim. O que é decisivo é o aspecto do preparado panado (daí a denominação alemã «Krokette») parecido com os já anteriormente existentes «muslitos de pollo». O que varía é o material no interior que a expresão «muslitos del mar» não indica: indica a sua proveniência.
Então, ter-se-ia feito a criação análoga de «coxinhas de frango» para «coxinhas do mar», não é? Não aconteceu. Assim entraram os «muslitos do mar» na língua portuguesa. Mas ninguém diria «muslitos de frango».

Park, Jae W. (2005). Surimi and Surimi Sea Food. CRC Press, 2nd edition.
Taha, Patrícia (1996). Estudo da viabilidade técnico-econômica da produção do surimi. UFSC: Florianópolis [Tese de Mestrado]. Link: «fabricação industrializada»

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