Friday, December 10, 2010

O Papel Oriental - uma invenção alemã no Porto

A denominação «Papel Oriental» caiu totalmente em desuso. Quem a ouve, pensará antes em produtos de decoração, por exemplo num papel de parede, do que num purificador do ar. Precisamente a indicação "Para purificar o ar dos quartos" encontra-se no «Papel Oriental», produzido e comercializado pela Fábrica de Productos Chimicos de Claus & Schweder, Succr., sediado no Porto. Para além dos apelidos dos empresários alemães, a embalagem ostenta todos os prémios que o produto arrecadou entre 1897 e 1902, em volta de um putto alado pseudo-barroco que perfuma um locus amoenus numa alcova qualquer.


Os dias chuvosos, o cheiro a bolor nos quartos que, nos invernos, ficaram muitas vezes fechados para não deixar fugir o calor, terão sido inspiração suficiente para procurar uma 'solução química'. Cada tira perfumada do «Papel Oriental» queima em menos de um minuto, tempo suficiente - como diz a explicação no verso - para desinfectar o ambiente e "para purificar o ar dos quartos d'hotel, viciado pela estada de incógnitos mais ou menos sãos". Mais ou menos... para depois despregar o rol de doenças mais ou menos contagiosas como "variola, croup, cólera, febres mucosas, tiphoide escarlatina, etc.." - a dupla estratégia publicitária de luxo e saúde pública resulta.
Este produto é, sem dúvida, uma peça importante na história transcultural da burguesia urbana portuguesa, no que se refere ao discurso da «hygiene», proveniente da França e Alemanha. Portanto, não deixa de ser signifiativo que a invenção deste papel, que pelo adjectivo «oriental» indica a comercialização do orientalismo do século XIX, se deve à iniciativa de dois imigrantes de terras alemãs, Ferdinand Claus e Georg Philipp Schweder, que em 1887 fundaram a referida fábrica no Porto, primeira indústria de sabonetes e perfumaria do país. Ainda hoje em dia existe a marca «Claus Porto». Mas isto já é outra historia.

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