Viajando de ônibus, de São Paulo caminho a Campinas, fiquei de repente
confrontado com a história do chocolate no Brasil. Numa paragem imprevista à
saída da estação de Tietê, um vendedor ambulante entrou, convidando os
passageiros à degustação de chocolate. Notei logo que tinham um sabor fabuloso
que me lembrava vagamente dos chocolates tradicionais do Sul da Alemanha.
Reparei no nome do produto: Neugebauer. Comprei logo 4 saquinhos, por um
preço de promoção improvisada no
momento, e perguntei ao rapaz pela
origem do produto. Não sabia responder. Então comecei a investigar pela
internet, descobrindo uma história que desconhecia até então por completo. O Brasil,
sendo um dos maiores produtores de cacau, só a partir de 17 de Setembro de
1891, portanto há 120 anos, passou a ter uma produção com base na refinação
da matéria prima e uma empresa que passou a vender os produtos ao consumidor
final: Neugebauer. Passo a citar a história, compilando a informação de fontes
várias.
Em 1888, o
confeiteiro alemão Franz Neugebauer (não cheguei a descobrir a região de origem
dele) chegou a Porto Alegre. Explorando as possibilidades da sua profissão, conversou
com as autoridades municipais e percebeu logo o interesse que tinham na
implantação de novas indústrias. Foi então que passou a desenvolver planos para
fabricar produtos alimentícios. Conseguido o local adequado, um prédio onde
antes funcionara uma escola, Franz Neugebauer escreveu aos seus familiares na
Alemanha, pedindo ao seu irmão Ernst que se especializasse no ramo da confeitaria e chocolates e viesse para o
Brasil, com a finalidade de iniciarem a produção.
Foi assim que
Franz e Max Neugebauer, juntamente com o amigo Fritz Gerhardt, fundaram a firma
Neugebauer Irmãos & Gerhardt, em 17 de setembro de 1891.
O início das
atividades foi de lutas e obstáculos, contudo conseguiram ampliar a produção,
principalmente depois da chegada de Ernst ao Brasil, trazendo novas
técnicas e aumentando o capital da empresa. Em 1896, com o grande sucesso
alcançado, a fábrica expandiu-se e iniciou a construção de mais um prédio e,
com a saída de Fritz Gerhardt, mudou a razão social para Neugebauer &
Irmãos.
No início do
século XX, com o pleno êxito dos negócios, a fábrica já não comportava o
aumento das vendas e era preciso crescer mais. Em 1903, adquiriram mais um
terreno e deram início à construção do
prédio de dois andares, que por muito tempo foi o maior do bairro Navegantes,
em Porto Alegre. Nas novas instalações, ampliaram a área industrial e abriram a
primeira loja de produtos:«Dividida em 10 seções, é a fábrica servida por 2 motores a vapor, que acionam 30 máquinas e 10 caldeiras próprias para a fabricação de confeitos. Além disso, há seções de cartonagem e funilaria, sendo esta última servida por um motor elétrico, que aciona 10 máquinas. O acondicionamento é feito em latas de folha-de-flandres brancas e litografadas, sendo também as caixas de madeira confeccionadas na própria fábrica. Nas suas máquinas a vapor, são empregados como combustível o carvão nacional e a lenha.
Há cerca de
2.000 tipos de dragées, caramelos, pastilhas, bombons finos, chocolate e
biscoitos, diversamente coloridos e capazes de satisfazer aos mais finos
paladares. A matéria-prima empregada é nacional e de primeira qualidade, o que
redunda no crescente aumento dos créditos da fábrica. Preside às operações
preparatórias o mais meticuloso asseio e pode-se observar que o pessoal de
ambos os sexos em trabalho nas diferentes seções é robusto e sadio.
Houve grandes
dificuldades a vencer ao princípio; ma a perseverança no trabalho e a
superioridade dos produtos acabaram por vencer todas as resistências. As
confecções desta fábrica rivalizam com as melhores do estrangeiro. As relações
comerciais da firma se estendem de Mato Grosso até o Amazonas, para o que ela
dispõe atualmente de 16 representantes e caixeiros-viajantes.
No próprio
estabelecimento à Avenida Germânia, 49, trabalham atualmente 150 operários, em
sua grande maioria mulheres. Um depósito com venda a varejo, à Rua dos
Andradas, 342, é dirigido por senhoras. O escritório da fábrica remontou-se à
Praça 15 de Novembro, 30. A fábrica foi premiada com grandes prêmios, medalhas
de ouro e prata em exposições do estado do Rio Grande do Sul, dos Estados
Unidos, de Milão e ultimamente na Exposição do Rio de Janeiro, com grande
prêmio e diversas medalhas de ouro.»
Fonte: página
817 de Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa
na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080
páginas. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd,
participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de
Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulálio e o historiador londrino Arnold
Wright.
Com o sucesso
alcançado, os irmãos Neugebauer triunfaram com a sua fábrica, hoje a mais
tradicional indústria de chocolates do país. Mantem-se até hoje o nome
Veja a
reportagem recente de Fátima Costa (2011), “O doce sabor”, Dinheiro
Rural, nº 86, (Dezembro de 2011)
http://www.terra.com.br/revistadinheirorural/edicoes/86/artigo243710-1.htm
Voltando à
história da empresa Neugebauer, esta passou em 1998 para a Parmalat que
a manteve nos seus ativos só até
setembro de 2002, quando a empresa foi adquirida pela Florestal Alimentos, de Lajeado, Rio Grande do Sul, sendo vendida novamente em dezembro de 2009 para a Vonpar
Alimentos, outra empresa do Rio Grande do Sul de tradição familiar alemã ou
suíça (família Vontobel, 1945: Johann Jakob Vontobel), e ultrapassou assim as
fronteiras do território brasileiro. Atualmente exporta bombons bola, bombons
sortidos, tabletes, barras e confeitos para a África do Sul, México, Costa
Rica, Omã, Jamaica, Ghana, Panamá, República Dominicana, Equador, Israel, Ilhas
Fiji e Nova Zelândia, entre outros.
Entre os seus
produtos, reconhecidos pelo consumidor, destacam-se a barra de chocolate Preto e Branco, a primeira do país
fabricada com duas camadas, o bombom Amor
Carioca, os confeitos Bib’s, as tabletes Refeição e Stikadinho, além da caixa de bombons sortidos Lembranças, da nova versão do bombom Noite de Gala e do relançamento do apreciado bombom Love Me.
No entanto,
estou quase convencido que os chocolates Neugebauer que tive o prazer de
degustar no ônibus que saía de São Paulo
ainda eram da produção artesanal original que tenha permanecido nalgum lado
escondida (não vi a data de validade, mas ainda continuo vivo).
Agradeço
a leitura crítica da mestranda Ana Patrícia Castro (Mestrado de Tradução e
Comunicação Multilingue)
Passei minha infância e adolescência consumindo os chocolates Neugebauer. Minhas cestas de Páscoa eram cheias com os ovos e coelhos Neugebauer, todos decorados com glacê, artesanalmente. O sabor era inigualável, um mixto de ao leite com meio-amargo, este último predominando. O chocolate era mais duro que os atuais e se roía as barras mais grossas. Vários produtos mudaram de nome e de consistência. O Beijo Africano era de pão de mel crocante revestido de chocolate e o Beijo de Moça era de Marshmallow crocante revestido de chocolate, este último comercializado pela Suss. Havia também o Estância Velha, o Panorama e o Amizade. Saudades!
ReplyDeleteÓtimo apanhado histórico, a Neugebaur tem uma sabor diferenciado e uma linha de produtos tradicional e muito querida pelos gaúchos.
ReplyDeleteÓtimo texto.
ReplyDeleteQuero o Beijo de moça de volta, só encontrava no Zaffari e sumiu. Sabor inigualável
ReplyDeleteQuero o Beijo de moça de volta!! Ia às compras com a mãe e sempre ganhava uns. Saudades daquele marshmellow e a cobertura de chocolate que derretia na boca.
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