Friday, March 30, 2012

A reinvenção portuguesa do «hamburger»

No início não prestei atenção. Só anteontem, numa coincidência entre uma nova experiência de sabor e a leitura de um blog de vinhos, arte culinária e não só ... da península ibérica que desconhecia fui descobrindo o alcance transcultural dos H3 hamburguers. Podemos chamá-los uma espécie de subversão soft do fast food globalizado por um not so fast food glocalizado.
Gostei da entrada «Where the Ultimate Mouthwatering Hamburgers are Made in Portugal» de Andrea Smith, que já data de abril de 2009, do qual retiro a seguinte citação:

What’s peculiar, from an American standpoint, is that the burgers have no bun! A hamburger without a bun is like Oreos without milk! Somehow, it seems sacreligious. I was informed that this was the traditional way in which the Portuguese made their burgers. Wait, burgers are traditional in Portuguese cuisine?? Apparently, instead of using the typical toppings of cheese, lettuce, tomato, ketchup etc, in many Portuguese homes, families drown their burgers in a rich cream sauce or variation on the egg. Hence, H3 features most of its burgers in the traditional style, including the H3 “Champingon” (mushrooms) and the H3 “Tuga” – a burger smothered in a very dark and rich “Molho a Portuguesa” with whole roasted garlic cloves, bay leaf and a fried egg.



Não deixa de ser curioso que Andrea Smith refere o bun, portanto o típico pão fofinho, como distintivo americano do hamburguer (nome oficial: hamburger sandwich) perante o 'sacrilégio' de comê-lo no prato, sem pão. Uma marca identitária adicional são certamente elementos como fatia de queijo (dando origem ao cheeseburger), alface, tomate e ketchup. But let us check the short definition on h2g2:
"A hamburger is a grilled patty of ground beef served with lettuce, onions and a mountain of french fries." - No bun!
Seguindo a mesma fonte, o hamburger bun foi uma invenção posterior de Walter Anderson, em 1916, que contribuiu decisivamente para a transformação em fast food, com a fundação da cadeia White Castle, em 1921, junto com Edgar Waldo "Billy" Ingram (origem: Wichita, Kansas).
Conforme outros, "the first true hamburger on the bun" foi servido por Oscar Weber Bilby em 1891, o que levou, em 1995, à proclamação de Tulsa como "The Real Birthplace of the Hamburger".

Portanto, sobre a origem do hamburger existem diferentes teorias que remetem para a invenção, mais ou menos casual, no âmbito da génese do  fast food na segunda metade do século XIX (efeito colateral da aceleração da vida sob condições do capitalismo burguês) e, em segundo lugar e nem sempre, para a emigração alemã para os Estados Unidos que também terá dado origem ao hot dog, por inspiração da semelhança com o típico cão alemão Dackel ou Dachshund, que venceu sobre a denominação de origem frankfurter.  
Não há unanimidade sobre o berço do hamburger. Muitas vezes, os 'investigadores' são levados pelo patriotismo local, nomeadamente em terras que precisam de História. A «History of the hamburger in the United States» refere nada menos que cinco fundadores independentes entre 1880 (Fletcher Davis, Texas) e 1895 (Louis Lassen, New Haven, Connecticut), sendo a invenção improvisada do Lunch Wagon deste último - também emigrante alemão - considerada Local Legacy pela Library of Congress: "Hamburgers are served only on white toast, with a choice of onion, tomato or cheese, but no condiments."


A opinião de cada um depende do que se considera essencial para além da carne picada de vaca, no prato ou metido no pãozinho cortado ao meio. Já em 1842, um livro de receitas americano refere o Hamburger Steak, no entanto, só como denominação da preparação da carne picada (us.: ground beef, brit.: minced meat) numa forma achatada e redonda. A filiação com  Rundstück warm, uma invenção reclamada pela gastronomia popular de Hamburgo por volta de 1900, já na combinação de carne (contudo, não necessariamente carne picada) com o Brötchen cortado ao meio e regado com molho, é tão questionável como a foundation narrative dos Irmãos Menches de Hamburg - desta vez uma vila de emigrantes alemães perto de Bufalo no estado de Nova York, em 1885, que levou à criação do slogan NEW YORK’S GIFT TO WORLD CUISINE, THE HAMBURGER.

Até hoje em dia, os Menches Brothers restaurants invocam uma tradição secular do hamburguer autêntico:

History recorded that Frank and Charles Menches ran out of pork for their sausage patty sandwiches at the 1885 Erie County Fair. Their supplier, reluctant to butcher more hogs in the summer heat, suggested they use beef instead. The brothers fried some up, but found it bland. They added coffee, brown sugar, and other ingredients to create a taste that stands distinct without condiments.

Ainda não provei esta versão que me parece muito peculiar. Sem investigar mais, vou deixar esta variação improvisada de hamburgerology heterodoxa, reinventada recentemente em Portugal por H3.

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